O peruano Ollanta Humala quer ser Lula
municipios con trabajo esclavo en Brasil
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Ele quer ser Lula
Na corrida presidencial, o peruano Ollanta Humala se afasta do discurso socialista e lança uma carta de compromisso com a economia. Soa familiar?
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Juliano Machado, com Leonel Rocha
É difícil encontrar na política brasileira metamorfose tão bem-sucedida como a de Luiz Inácio Lula da Silva. De Sapo Barbudo, como Leonel Brizola o apelidou na época em que assustava eleitores ao vociferar contra a economia de mercado e a propriedade privada, Lula se tornou um príncipe de popularidade, eleito presidente duas vezes. A receita do "Lulinha paz e amor", que deixou para trás a ideologia radical, deu tão certo que há gente fora do Brasil querendo fazer igualzinho. O aprendiz de Lula se chama Ollanta Humala, candidato à Presidência do Peru.
No início do ano, Humala começou desacreditado a campanha para as eleições do dia 10. Até um mês atrás patinava em 5% das intenções de voto, num distante quinto lugar. Na semana passada, lá estava ele na liderança, com 23% das preferências, em disputa acirrada com o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) e Keiko Fujimori, a filha do também ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000). Parte da explicação para a arrancada passa pela nova imagem comportada em que ele investe para atrair o eleitorado que antes o temia - tal como Lula fez na campanha de 2002.
Tenente-coronel reformado com uma retórica nacionalista de esquerda, Humala, de 48 anos, apareceu no cenário político do Peru em 2000, quando participou de uma tentativa de golpe contra o governo corrupto de Alberto Fujimori
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Em 2006, candidatou-se à Presidência com uma plataforma de forte intervenção do Estado na economia e de alterações na Constituição para uma reforma social no país. Venceu o primeiro turno, mas perdeu por pouco no segundo para o atual presidente, Alan García. Na época, a derrota foi creditada ao medo da maioria do eleitorado de sua amizade com o venezuelano Hugo Chávez, altamente impopular no Peru. Hoje, Humala quer ficar o mais longe possível da turma bolivariana - e pediu a Chávez que "não se meta" nas eleições peruanas.
A imprensa local noticiou que Humala teria contratado o marqueteiro baiano João Santana, que comandou a campanha da reeleição de Lula e a eleição de Dilma Rousseff. Fora do Brasil, em 2009, conduziu à vitória em El Salvador o esquerdista Mauricio Funes. Em nota, o comitê de Humala negou contato com Santana, mas informou que está usando os serviços de "uma pequena empresa brasileira de assessoria em diagnóstico eleitoral", sem dizer qual é. De viagem ao exterior, Santana não retornou as tentativas de contato feitas por ÉPOCA.
Mesmo que não esteja oficialmente assessorado por marqueteiros de Lula, Humala está reeditando o roteiro vitorioso do ex-presidente brasileiro em 2002. Houve até uma versão peruana da famosa "Carta ao Povo Brasileiro", em que Lula acalmou empresários e investidores ao garantir que trataria de controlar a inflação e respeitar contratos, entre outros fundamentos macroeconômicos. Humala veio com o "Compromiso com o Povo Peruano" e promessas parecidas de estabilidade, além de garantir que não fica nem um dia a mais do que os cinco anos de mandato - não há reeleição consecutiva no Peru. O PT diz não ter tido participação na confecção da carta - mas as coincidências são impressionantes. Humala quase copiou alguns trechos da carta brasileira. Escreve que um Banco Central independente pode defender o Peru de "pescadores de águas turvas", em referência a especuladores internacionais. Lula diz em sua carta que, no governo de Fernando Henrique, "especuladores saíram à luz do dia para pescar em águas turvas".
Humala quase copiou trechos da "Carta ao Povo Brasileiro", de 2002, em um documento aos peruanos
Paralelamente à veia chavista, Humala tem uma amizade antiga com Lula. Quando era candidato em 2006, foi recebido em audiência no Palácio do Planalto. Esteve recentemente em Brasília, em fevereiro, convidado para a festa de 31 anos do PT. "O partido não decidiu apoiar ninguém, embora fiquemos muito contentes com o fato de o povo peruano dispor de uma alternativa de centro-esquerda como Humala", afirma Valter Pomar, ex-secretário de Relações Internacionais do PT. O Partido Nacionalista Peruano, fundado por Humala em 2006, integra o Foro de São Paulo - a aliança latino-americana de esquerda criada pelo PT, que inclui de Chávez aos Castros e já contou com participação de membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Os petistas não seriam os únicos que ficariam satisfeitos com a vitória do aspirante a Lula. Humala já afirmou sua intenção de "trabalhar a longo prazo com o empresariado do Brasil". O país andino é hoje um dos mais promissores polos de investimento brasileiro. Ao contrário de vizinhos como Equador e Bolívia, os últimos governos se afastaram do populismo e atraíram o capital estrangeiro. A economia só evolui. São 12 anos seguidos de PIB em alta; em 2010, o crescimento foi de expressivos 8,8%.
Como ainda há muitas carências de infraestrutura, é nesse setor que as empresas brasileiras, especialmente as construtoras, ganharam espaço. Mas nenhuma delas diz ter preferência por Humala. "Não haverá nenhuma oposição aos investimentos brasileiros, e em especial com respeito à integração energética, em caso de vitória de qualquer um dos cinco candidatos na disputa", diz Valfredo de Assis Ribeiro Filho, diretor da construtora baiana OAS para o Peru e o Equador. Ribeiro se refere a um acordo bilateral assinado no ano passado que fez do setor elétrico a grande aposta para nossos investidores. Ao menos seis hidrelétricas deverão ser construídas com capital brasileiro na Amazônia peruana, e a estimativa do setor é que cerca de metade da energia produzida seja exportada para cá, uma vez que a demanda do Peru ainda é suprida com folga.
A maior delas, por enquanto, será a de Inambari, com capacidade para gerar até 2.200 megawatts - tornando-se a maior do Peru e a quinta da América Latina. Quem vai tocá-la, a um custo estimado de quase US$ 5 bilhões, será um consórcio formado pela OAS e pela Eletrobras. Qualquer que seja o presidente eleito, porém, terá de lidar com as queixas sobre o impacto das usinas. "Os índios peruanos são muito politizados, assim como os agricultores que descem das regiões andinas", afirma Marc Dourojeanni, professor da Universidade Nacional Agrária de La Molina, em Lima, e especialista na Amazônia local.
Para o cientista político Romeo Grompone, do Instituto de Estudos Peruanos, a estratégia lulista de Humala tem alcance restrito e deve ser posta à prova caso ele chegue a um possível segundo turno, em junho. "Ele pode atrair eleitores temerosos na classe C, mas dificilmente eliminará a rejeição entre a elite, mesmo com sua promessa de manter o rumo da economia. Isso pode complicá-lo numa disputa com um candidato que aglutine a direita e o centro, como Alejandro Toledo", diz Grompone. Em relação à campanha vitoriosa de Lula em 2002, é provável que Humala vá precisar de muito mais esperança para vencer o medo.
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